Do Sínodo à Apostasia
- O Oratório
- 4 de set. de 2019
- 14 min de leitura
Por Um Frade
Ai, ai! É pela falta de correção, que os membros da Igreja apodrecem.
Do mesmo modo Cristo olha os nefandos vícios de impureza, da avareza e do orgulho, reinantes na esposa de Cristo.
- Santa Catarina de Siena. Cartas, 109
A intrépida Doutora da Igreja, Santa Catarina de Siena, tem muito a nos ensinar nesta época de confusão que faz a hierarquia, religiosos e leigos abdicarem da fé católica em nome de uma pretensiosa leitura dos “sinais dos tempos”. Anunciam um “bem viver” e esvazia-se o conteúdo salvífico da pregação evangélica.
A árvore da Cruz é olvidada e exalta-se a samaúma amazônica. A vida interior é identificada com uma exterioridade harmônica do homem com a “Mãe Terra”, o que geraria uma tranquilidade psíquica e espiritual comparável (senão superior!) à vida sobrenatural da graça. A Revelação, no máximo, seria um dado suplementar à já presença de Deus na natureza, na cultura, na espiritualidade e na vida das tribos aborígines, daí à identificação do Altíssimo como alguma espécie predicada de muitos indivíduos é um passo. Perguntem-me, e com razão, o que faz o zelo do frade estar tão inflamado?
Um pérfido “Instrumentum Laboris”, desta vez para o sínodo da região Pan-Amazônica. Oxalá, seja o absurdo de suas letras abominado, não passe ele de um instrumento para ratificar a fé católica que informa a ação apostólica da Igreja, sua vocação missionária é de anunciar a Cristo e a salvação do gênero humano trazida por este, que sem dúvidas, abrange a realidade temporal e a criação “que geme como em dores de parto”, mas que não pode encontrar fora dele a libertação para o pecado que a fere e muito menos que a alcance plenamente numa construção humana, de uma ilusória harmonia, como se não fosse seu fim a consumação dos séculos e a glória da Eternidade.
Por isso, a fim de oferecer uma reflexão para os católicos sobre o perigoso conteúdo doutrinal deste texto, abordarei pontos específicos que geram erro, fruto da mente obscurecida pelo pecado e da influência do mal. Uma coisa é certa e devemos gratidão aos redatores: não poderiam ser mais claros na demonstração dos seus propósitos, ainda que por vezes transvestidos, apresentam para quem tem olhos de enxergar, o mal de uma teologia sem fé e de um homem sem Deus. Observe-se desde o início, que a doutrina está para a ação da Igreja, como está o intelecto para ordenar a vontade, a fé para elevar a razão e a graça para aperfeiçoar a natureza, nisto alcança o homem sua redenção integral. A limitação deste texto está em escolher aspectos principais, não sendo possível aqui, abordar todos os parágrafos ou proposições, não obstante, estejam nos temas abordados a resolução da doutrina exposta.
Quiçá a frase mais católica de todo o documento fosse: “A evangelização na América Latina constituiu um dom da Providência que chama todos à salvação em Cristo” (Instrum. Lab. Sínodo Amazônico, §6), infelizmente, segue-se a ela uma vasta coleção de afirmações que contrariam o divino dom da Providência, a realização plena da vontade de Deus: “que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (I Tm 2,4)”.
UMA PITADA DE PANTEÍSMO
Santo Tomás nos ensina que Deus está presente naturalmente em suas criaturas de três modos: por essentiam, enquanto dá o ser a todas as coisas; por potenciam, pois tudo age em virtude do poder divino, que é a Causa Primeira; e por praesentiam, sendo Ele mesmo a ordenar e dispor imediatamente todas as coisas (cf. Compêndio de Teologia 135). Há ainda a presença de inabitação da Trindade na alma, mas que ocorre por ordem da graça habitual. O mundo criado constitui assim, uma obra que no que há de perfeito aponta para o Criador, é uma manifestação da amorosa e livre ação de Deus.
No entanto, impressiona os parágrafos 19, 25 e 29 do Instrumentum, que aludem a certa peculiaridade da Amazônia como fonte de revelação de Deus, como se não o fossem toda e qualquer beleza das criaturas do Universo. Revelação não integral, mais imperfeita, que pode levar a graves erros, como ocorre na crença dos índios ao atribuir a estas mesmas criaturas o caráter de divindades, aliás, a beleza das criaturas apontam para o reconhecimento do seu Criador, mas não revelam a sua essência, muito menos a apreende totalmente, não é uma epifania como a encarnação do Verbo. O uso do termo “sementes do Verbo” é apelativo, todos sabemos de seu uso contextualizado na sabedoria filosófica dos gregos, ademais, falta-lhe a especificação de incompletude, caso contrário, Deus ter-se feito homem seria desnecessário. “Tudo está interligado” é outro perigoso termo, que não manifesta certamente, a hierarquia dos seres, “tudo está ordenado para Deus como um fim, mas não do mesmo modo, nem com a mesma realização”.
UM NOVO PENTECOSTES
“A diversidade original que oferece a região amazônica – biológica, religiosa e cultural – evoca um novo Pentecostes” (§30), essa é uma daquelas frases pretensiosas que nos fazem quase iguais aos apóstolos como fundamento do edifício espiritual que é a Igreja. Observe-se que a afirmação nos leva ao evento histórico inicial do movimento ad extra da Esposa de Cristo, ali a Igreja se apresentou ao mundo, falando em todas as línguas e povos pela boca de São Pedro. Ora, de duas uma: ou necessitamos de um novo Pentecostes, pois aquele já não serve mais para informar a vida e missão da Igreja, - e pasmem no mundo inteiro! -, pois não foi a um só povo que falaram os Apóstolos; ou a região da Amazônia começa a ser evangelizada a partir de agora, de modo, que a ação apostólica de outrora, com a doutrina e a liturgia, que transmitem a fé e o amor e que alimentam a esperança do céu de todos os cristãos a dois mil anos, foi inútil. Trágico!
Outra sentença ratifica a constatação de esquizofrenia, renunciou-se, não a muito tempo, o poder de interferência da Igreja na orientação de seus filhos e na exortação de todos para viverem em sociedade a verdade, beleza e bondade, a que nos faz participantes o Verbo, e a intrépida defesa da religião e fé verdadeiras por um doce convívio com toda a peste de erros, mas lemos o lamento: “Perante os rápidos processos de transformação, a Igreja deixou de ser o único ponto de referência para a tomada de decisões. Além disso, a nova vida na cidade nem sempre torna possível realizar os sonhos e as aspirações, mas muitas vezes desorienta e abre espaços para messianismos transitórios, desconectados, alienantes e sem sentido” (§32).
No mundo contemporâneo não encontramos uma palavra mais insana que diálogo, atenta-se sempre ao fato de ser uma comunicação, mas nunca se diz que há um fim para ele e este é a verdade. Contemplemos, como faz o Instrumentum (§36 e 37), o diálogo de Nosso Senhor com a Samaritana. Sai ela dali com a verdadeira água da vida, que saciará sua sede por completo, e que a impulsiona a anunciar a mesma verdade? Ou sai ela dali risonha com a lembrança de florida conversa, uma construção verbal dotada de respeito humano e que não a há faz beber da verdadeira água da vida? O Evangelho não deixa dúvidas. Pode-se alegar: - mas ela falava com Cristo; e o que é a Igreja Católica, senão a depositária da mensagem de Jesus e a sua única legal Esposa que o anuncia? Diz o Senhor: “Quem vos ouve, a Mim ouve; quem vos rejeita, a Mim rejeita, e quem Me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,16).
A revelação dos mistérios da fé, amparados na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição, tendo como fonte que as alimenta e mantém o próprio Senhor, verdade, caminho e vida, são para as mãos que prepararam os parágrafos 38-40 algo irrelevante ou não contingentes. Afirmam categoricamente a possibilidade de salvação fora do Corpo Místico de Cristo e confirmam a miserável tese de que de nada importa uma verdadeira doutrina que ordene e alimente a vida, pois afirmar a verdade dos mistérios da fé seria destruir a ela mesma: “A abertura não sincera ao outro, assim como uma atitude corporativista, que reserva a salvação exclusivamente ao próprio credo, são destruidoras desde mesmo credo” (§39). Não aceitemos tal preposição e ouçamos o Doutor Angélico, sem dúvidas, um crente verdadeiro: “crer é um ato do intelecto que assente a uma verdade divina por império da vontade movida por Deus mediante a graça” (Summa Theologiae, II-II, q.2, a.9, c.).
A forte admoestação de Nosso Senhor aos discípulos basta para a preocupação única com a vida nesta terra de exílio, sem alusão alguma, a vida beata: "Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?" (Mc 8, 36), lemos no Instrumentum: “Um diálogo a favor da vida está ao serviço do “futuro do planeta” (LS, 14)”, e segue-se no parágrafo amenizações eufêmicas para consolar corações endurecidos, mentalidades reacionárias, forças conservadoras, como se preocupasse a quem tem convicção de sua fé e busca amar sempre mais a nosso Senhor e ao próximo se assim taxado; por quem nega a unicidade da salvação em e por Cristo, contra o relativismo daremos o martírio de nossa vida, seja “o martírio do coração ou do corpo, ou antes os dois”, como dizia Santa Teresinha.
NÃO HÁ CONVERSÃO PARA OS INDÍGENAS?
Não se deve ensinar a fé, a moral e os costumes católicos às famílias indígenas, seria isso destruir sua cultura. De fato, devia-se ter preservado alguns dos antigos costumes familiares dos aborígenes, como, por exemplo, o belo programa familiar de comer pessoas, ou ainda, o amoroso gesto de algumas tribos dos pais sacrificarem filhos deficientes. A proposição seguinte é eficaz: “Na Amazônia a família foi vítima do colonialismo no passado e de um neocolonialismo no presente. A imposição de um modelo cultural ocidental inculcava um certo desprezo pelo povo e pelos costumes do território amazônico, e chegava-se a qualificá-los como “selvagens”, ou “primitivos” (§76).
Propostas difíceis tocam o número 79, especialmente a alínea "d" e o inciso III, não há que se negar acolhimento e acompanhamento de pessoas em estado objetivo de pecado, em que a saída requer grande esforço pessoal, que não fica sem a ação da graça, Deus não resiste a um pecador arrependido, que deseje mudar (e mude) de conduta. A eucaristia não é um prêmio por sermos bons ou porque merecemos, ninguém sensato se afirma digno, ao contrário dizemos batendo no peito antes de comungar: “Senhor, eu não sou digno...”. Porém, também não é comida que fortifique a prática do pecado, do erro ou do vício, todo aquele que peca mortalmente não se encontra receptível a ação e efeito do sacramento, que nos fortalece e capacita para a prática das virtudes por amor. Comungar e não sair do pecado, é o mesmo que comer o alimento celeste, mas caminhar para o inferno.
Às famílias com dificuldades, a Igreja as acolhe e cuida como mãe amorosa, com muita atenção aos filhos que são os que mais sofrem. Sabe, como Esposa, que é submissa ao Cristo, a atitude feminina no seio da sociedade perfeita não é outra, senão a de sub-missa, sob a missão, como pilar que alicerça a mesa, a mulher é tão influente na Igreja porque é resistente, a resistência é a força feminina. É ela quem aguenta longos anos de oração pelos filhos e marido, é ela quem aconselha com docilidade, é ela quem aquece com ternura, não há quem realmente creia que seja fraca na Igreja, é invicta, rege pelo amor que doa no cotidiano, não podemos querer ferir sua natureza cobrando dela o que não lhe deu Nosso Senhor, o múnus apostólico de governar, se o quisesse fazer, como sacramento ou disciplina, o teria feito em sua mãe primeiramente. Mas não é outro o título magno da Virgem, é grande por ser Mãe de Deus.
Sempre vejo um esquecimento, não involuntário, de que a Igreja é militante, padecente e triunfante, o parágrafo 92 é claro exemplo disso. A Igreja é Mãe e Mestra, não é irmã. A sinodalidade não é conciliarismo ou parlamentarismo, a maioria pode ser ariana, cátara ou modernista, é grave dever da maioria submeter-se à verdade, à Majestade divina, não há a opção de reformularmos orgulhosamente o conteúdo da revelação divina. Outro delírio é a identificação do Bispo com a totalidade da Igreja Universal, ele sim, é mestre do rebanho e discípulo do Senhor. A Esposa do Cordeiro, só é discípula, enquanto fiel cumpridora da vontade do seu Amado: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Uma teologia do índio (§98) é tão ridícula quanto teologia da árvore, da diversidade ou da mulher. TEO-LOGIA é sobre Deus ou não é.
Se você acha que abusei no juízo sobre reduzirmos a Igreja a nós que militamos, veja como se expressa melhor o número seguinte: “O processo de conversão ao qual a Igreja é chamada implica desaprender, aprender e reaprender (§102)”. Observe, nós não precisamos nos converter, não é você que precisa sair da ignorância para a verdade, do mal para o bem, do pecado para a salvação, não é você que precisa desaprender seus vícios, aprender a praticar a virtude e reaprender a sua verdadeira liberdade, não é você, é a Igreja, é ela que te oprime e é ela que deve desaprender o que lhe ensinou Nosso Senhor, aprender o que lhe diz o mundo e reaprender a atualizar sua arcaica doutrina.
"A evangelização na Amazônia é um banco de ensaio para a Igreja e para a sociedade (§106)" é a frase que anuncia descaradamente o que se pretende. Nenhuma mudança na presença da Igreja na Pan-Amazônia busca um efeito local, não se iluda, começa ali para mudar-se o que ainda resiste de pé na tão mutilada doutrina católica pelo modernismo, o parágrafo 109 é autoexplicativo, é um erro manifesto.
A FRAQUEZA DO EVANGELHO: CONVERTA-O À CULTURA
Os números 108, 110, 113, 120 e 123, dão um espetáculo que deixa perplexo qualquer católico que honre este nome. A inculturação é entendida como adaptação do Evangelho à cultura e não a ordenação da cultura ao Evangelho. O Filho de Deus se fez homem assumindo a realidade humana, Ele não se encarnou somente como judeu, ou seja, para seu contexto histórico restrito, fez-se carne naquela cultura, mas renovou a partir de e em si todas as outras, assim é a cultura que se adequa ao Evangelho e não o contrário.
Brada o parágrafo 110, citando documento papais, o que é pior: nada de dogmas, por favor! Leia: “O referido rosto nos alerta para o risco de “pronunciar uma palavra única [ou] propor uma solução que tenha um valor universal” (cf. OA, 4; EG, 184). Sem dúvida, a realidade sociocultural complexa, plural, conflituosa e opaca impede que se possa aplicar “uma doutrina monolítica defendida sem nuances por todos” (EG, 40).
Analise, a catolicidade da Igreja não inclui a unidade de fé, incluindo o modo de expressá-la, é claro, basta-lhe uma comunhão de sentimentos, não somos um só corpo e uma só alma, somos uma só vontade e sentimentos, não somos uma sinfonia harmoniosa que com vários instrumentos a tocar uma música que agrade ao Altíssimo, não podemos ser porque todos devem ler uma só partitura e são regidos por um só maestro, que dá sinais a todos, a fim de que alcancem seu fim. Nem podemos ser um corpo, porque ainda que tenha membros distintos, são ordenados por um cérebro que dá a todos comandos e por um coração que faz chegar o mesmo sangue a todos, tudo isto regidos por um espirito que recebe de Deus seu ser. A multiplicidade que enriquece a Igreja é dos dons e carismas que servem a mesma fé, expressada pela vida e palavras que comunicam o único Evangelho do Senhor.
O número 120 diz que as “sementes do verbo” não são imperfeitas, ao contrário deram frutos, ou seja, alcançaram a plenitude, a perfeição, realizaram-se: “Este anúncio deve ter em conta as “semente do Verbo”, aí presentes. Reconhece também que em muitos deles a semente cresceu e produziu frutos. Isto pressupõe uma escuta respeitadora, que não imponha formulações da fé expressas a partir de outros pontos de referência culturais, que não correspondem ao seu contexto vital. Mas, pelo contrário, que se ouça “a voz de Cristo que fala através de todo o povo de Deus” (EC, 5)”. É de fazer São Justino de Roma desistir de usar tal termo, a citação mina seu sentido original.
UMA NOVA IGREJA
Todos sabemos que a liturgia, em especial o Santo Sacrifício, tem fundamental importância para a conversão e santificação dos fieis, toda ela nos envolve nos mistérios da fé, por meio dos quais pela contemplação nos sagrados ritos respondemos à sua fonte e origem, nosso Deus, por um profundo ato de gratidão em adoração, ação de graças, reparação e rogação. Diz o número 124: “Sem esta inculturação, a liturgia pode reduzir-se a uma “peça de museu”, ou a “uma possessão de poucos” (EG, 95)”. Modificar a liturgia em seu núcleo comum a toda Igreja, fere profundamente nosso ato de culto, ela não é nossa construção, é dom de Deus, o arbítrio pessoal de um movimento litúrgico desenfreado nos faz sofrer até hoje o empobrecimento espiritual e catequético das comunidades católicas. Nós não falamos de uma reunião ou de uma festa qualquer, reunimo-nos para oferecer um ato público e justo de adoração ao Altíssimo, por Cristo no Espirito Santo, no qual expressamos a integralidade de nossa fé, manifestada na unidade católica dos ritos em uma significação comum. Mas roga o Instrumentum: “Pede-se para superar a rigidez de uma disciplina que exclui e aliena, em prol de uma sensibilidade pastoral que acompanha e integra (AL, 297 e 312)” (§126, b). Imaginemos quais culturas não poderão exigir o mesmo!
Como todo poder exercido pelos homens, a autoridade na Igreja tem em Deus sua fonte e majestade, os pastores recebem como vigários o múnus de santificar, ensinar e reger, podem chamar a si cooperadores em sua árdua missão, sem, no entanto, modificar a estrutura hierárquica da Igreja que por vontade divina repousa sobre os varões ordenados. A Igreja não é uma democracia, pretender torná-la é trair o Evangelho (§127).
O desejo de fazer viri probati sacerdotes, quer fazer esquecer que a promoção de vocações conforme a tradição da Igreja, foi por vezes olvidada por muitos prelados amazônicos, que queriam agentes sociais, antes que pastores. Também deve se recordar que os viri probati de outrora, não mantinham suas famílias e afastavam-se da prática sexual com sua esposa, não deixavam de ser casados, porque, outra verdade católica, difícil para muitos, é a de que o matrimônio é indissolúvel.
Além do mais, qualquer região poderá alegar o mesmo motivo de ausência de sacerdotes para ordenar homens casados. Onde há padres em abundância depois da revolução progressista? Sabemos que a comunhão frequente é uma realidade recente, muitos santos e santas de sétima morada comungavam poucas vezes ao ano, e que é melhor comungar ao menos uma vez pela Páscoa da Ressurreição, depois de uma confissão sincera e piedosa e de lições espirituais, do que cotidianamente e não crer no Sacrifício incruento da missa. Sobre ministérios oficias femininos - entenda-se de governo, ensino e santificação como os sacerdotes - pois as mulheres já são abadessas, catequistas, conselheiras, professoras, não há na Tradição da Igreja resquícios de algo assim, há a possibilidade de nos tornarmos protestantes, é óbvio.
É realmente o que se lê nas penúltimas linhas do documento, um desejo de fazer-se protestante: "Elas nos mostram outro modo de ser Igreja, onde o povo se sente protagonista, onde os fiéis podem expressar-se livremente, sem censuras, dogmatismos, nem disciplinas rituais! (§137-38)”. Alguém deve dizê-lo: basta que saiam e escolham uma das seitas protestantes, é claro, as consequências de afastar-se voluntariamente da verdadeira fé serão sentidas. Aos católicos, diga a sua vó ou mãe, que ela não é protagonista quando é uma mãe de família em sua casa, ou quando cheia de devoção e piedade reúne a família, os amigos e a comunidade para rezar, ou diga a tantos leigos e leigas que abraçam o estudo e a defesa da fé em comum, que querem impregnar a realidade temporal dos valores do Evangelho, que eles devem se ocupar dos serviços reservados ao clero, devem ser pequenos clérigos, pois sua missão é pouca, ser pai e mãe, político ou professor, dar conta de sua missão cotidiana e de um apostolado que condiga com sua vocação buscando a santidade é pequeno, devem ser parte da hierarquia eclesiástica.
O último parágrafo, 144, alude timidamente, e não por acaso, ao tema que deveria ser principal: a conversão da cultura pelo Evangelho. Fala-se algo sobre isso para que o bem aparente, que é o Instrumentum, seja considerado como a única escolha certa. Também faz um convite à Igreja para que retome sua “profecia”, como se houvesse perdido isso a muito tempo: “Na voz dos pobres se encontra o Espírito; por isso, a Igreja deve escutá-los, são um lugar teológico. Ao ouvir a dor, o silêncio se faz necessidade, para poder ouvir a voz do Espírito de Deus. A voz profética implica uma nova visão contemplativa, capaz de misericórdia e de compromisso. Como parte do povo amazônico, a Igreja volta a definir sua profecia, a partir da tradição indígena e cristã. Mas significa também rever com consciência crítica uma série de comportamentos e realidades dos povos indígenas, que são contrários ao Evangelho. O mundo amazônico pede à Igreja que seja sua aliada.” (§144)
A Igreja deve ser Mãe e Mestra na Amazônia como em qualquer lugar do mundo, sua missão é viver e pregar o Evangelho para a salvação das almas, dando a todos do tesouro precioso que jorra de seu Sagrado depósito, que ordena a vida de todos com fé e esperança e os fazem crescerem no amor a Deus, a fim de que por graça, a vida divina iniciada em nós, seja levada ao seu fim, quando o veremos face a face como Ele é e o amaremos como ele se ama. Sê fiel, ó membros militantes da Esposa de Cristo, não é relativizando a doutrina e a vida cristã que sereis testemunhas do Senhor para o mundo! Mas o contrário, com orações, sacrifícios e doação da própria vida por amor à fé, é que mostrareis ao mundo a força irresistível e criativa do Amor.
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